sábado, agosto 15

Entrevista com a banda DISSIDIUM - PB

A banda paraibana Dissidium, formada em 2001, traz um Death Metal tradicional com influências de bandas clássicas do gênero, como: Obirtuary, Morbid Angel, Malevolent Creation e Deicide. A banda tem em seu line up ex-membros da banda que conseguiu projeção no cenário regional, nacional e internacional, Medicine Death. Atualmente a banda está lançando seu primeiro trabalho de estúdio “Danse Macabre”, que traz em suas letras os temas característicos do estilo, e também perspectivas estéticas peculiares, como o universo e a linguagem dos filmes de horror. O EP “Dense Macabre” veio com uma gravação 100% paraibana e no formato de SMD (Semi Metalic Disc), onde o baixo custo fica viável ao público consumidor, (para adquirir o seu SMD ou camisa da banda, entre em contato pelo Myspace ou Pelo perfil no orkut). O Farofa Underground teve o prazer de conversar por e-mail com os membros Eduardo “Monga” (bateria); Alex Antonio (guitarra); Marcio Quirino (baixo) e Willard “Scorpion” (vocal), confiram abaixo:

[FxUx]Olá Dissidium. Primeiramente gostaríamos de saber como se deu a formação da banda? Sabemos que vocês participaram, em instantes diferentes, da banda de death metal paraibana “Medicine Death”. Como vocês se conheceram?


Eduardo Amorim: A respeito da formação não tenho muito a dizer, pois quando entrei a banda já estava formada. Reencontrei com Alex e Márcio depois de uns anos que estava afastado e comecei no projeto RID (Rest In Disgrace), sendo convidado a participar do Dissidium posteriormente. Como vivemos numa cidade relativamente pequena, nos conhecemos antes do Medicine Death, aqui todos se conhecem.
Márcio Quirino: A formação da banda se deu em 2001, quando eu e Alex estávamos disponíveis para novos projetos musicais e, coincidentemente ou não, cursávamos a mesma faculdade na universidade. Já éramos mais ou menos familiarizados com o perfil musical um do outro e acabamos conhecendo também mais do background pessoal de cada um na cena local, o que facilitou a convergência de ambos para um trabalho mútuo.Quanto ao MD, em 1997, aos quinze anos e meio, mais ou menos, eu fui indicado por um amigo da banda para fazer testes nos baixos (a idéia na época era justamente trazer alguém que estivesse começando e com disposição, para assimilar melhor o momento vivenciado pelo grupo, que então estava em estúdio). Durante o período que se seguiu aprendi muito com a experiência, e acho que até hoje trago daí, mesmo que minimamente, aspectos característicos relativos ao processo composicional; não necessariamente na elaboração das melodias e riffs propriamente ditos, mas na maneira de se pensar a estrutura das músicas como um conjunto, e dar a esse conjunto tal ou tal direcionamento, com suas nuances particulares... uma maneira de “controlar” o resultado final ― isso sempre me chamava a atenção naqueles tempos: como cada momento parecia ser consciente, cuidadosamente pensado (talvez, entre outras coisas, também por isso até hoje não sou muito afeito a certas convicções artísticas, como “liberdade criativa” etc., ou ao menos tenho interpretações muito próprias delas; já que privilegio realmente o lado mais “mecânico” da coisa). [O melhor de tudo é que amanhã, ao ler esta entrevista, o próprio Wilhelm Hansen (guitarrista – Medicine Death) pode dizer: “pô, eu não pensava em nada disso!”, ah ah]. Foi também nesses tempos que conheci o baterista Eduardo Amorim e o vocalista Williard Scorpion, que por fim vieram enriquecer o line up do Dissidium, cada qual a seu tempo.

Alex Antonio: Conheci Márcio em um dos shows que freqüentamos aqui na cidade, não lembro exatamente qual; mas foi neste período da universidade que realmente ficamos amigos e concomitantemente surgiu o interesse de trabalhamos juntos. Sabíamos da participação de cada um, em momentos distintos, no Medicine Death e conversando sobre nossas influências musicais, percebemos a necessidade de formarmos uma banda para tocar a música doentia de que realmente gostamos. (Risos) Alguns anos de trabalho e várias formações depois conseguimos estabilizar o line up – o mesmo desde janeiro de 2008 – com Eduardo na bateria e Williard nos vocais.
Como Eduardo comentou, todos da banda já se conhecem há um bom tempo. Na verdade, conheço Eduardo desde a época do 2º grau, pois estudamos no mesmo colégio e também freqüentávamos os mesmos shows, além, é claro, do “Bar do Ricardo” – antigo e saudoso “Bar Rock” da cidade de João Pessoa. Williard, eu conheci numa das reuniões de um antigo grupo de discussão sobre as Tragédias Gregas, que freqüentávamos na universidade. Obviamente, já conhecia seu trabalho musical e foi um grande prazer quando alguns meses depois, ele e seu irmão Wilhelm me convidaram para fazer parte do Medicine Death – que também contava, nesta época, com Eduardo na formação. Sem dúvida, este período em que estive com a banda foi de grande aprendizado. Infelizmente não conseguimos realizar nosso projeto de gravar o terceiro álbum da banda, mas ao menos, tive o privilégio de participar da última gravação oficial do Medicine; uma versão para a música “Impious Mortal” da banda Brain Dead – lançada em um tributo à banda em questão, uma das pioneiras na cena da Malásia, intitulado “In Remembrance Of... Brain Dead ...D’ Tribute”. Afortunadamente nossos caminhos artísticos se encontraram novamente e pudemos maquinar nas encruzilhadas novas conspirações. O resultado desse conluio sonoro vocês poderão conferir no novo trabalho do Dissidium, “Danse Macabre”.

Williard Scorpion: Quando deixei o Medicine, o Márcio assumiu o posto de baixista. Apesar disso, só cheguei a conhecê-lo pessoalmente uns bons anos mais tarde nos corredores da UFPB, pois eu realmente estava afastado da banda nesta época. Também conheci o Alex na UFPB e, algum tempo depois, quando retornei para o Medicine, convidei-o a integrar aquela que foi a última formação da banda. O Eduardo conheci antes de todos eles, pois ele já havia tocado em outras bandas como o Carcinoma Pattern e, também, integrou a última formação do Medicine (aquela que gravou a música “Impious Mortal” para o tributo à banda Brain Dead da Malásia).

[FxUx]Vocês têm como tema o cinema de horror, e fazem uma homenagem à Stephen King. Como se deu esta escolha ao tema e suas composições?

M. Quirino: A idéia original (não para a concepção da banda, ad aeternum, mas para o primeiro trabalho) era tratar o mais diretamente possível do cinema de horror, cada faixa falando de um filme em específico, com seus caracteres particulares etc., e só. Isto porque, meio que espontaneamente, desde sempre fizemos essa espécie de analogia entre death metal e filmes de terror (as figuras discursivas, fluência das cenas, linguagem e emoções envolvidas); e, além disso, lembro-me que de fato era algo que o próprio Alex sempre almejava e mencionava ― e obviamente, também eu, que desde criança assisti às imortais séries Hellraiser, Friday The 13th, A Nightmare On Elm Street, The Omen, The Exorcist...
Já a referência ao título de King, veio da feliz contribuição de Scorpion, que de imediato vislumbrou no tema algo “maior” ou mais “fundo” ― buscando não apenas o fenômeno por assim dizer “mais aparente” do horror, mas suas raízes e significação filosófica, de uma perspectiva mais universal... ou seja, algo do tipo: “tocamos death metal... vamos falar da morte!” (neste caso, “através” do prisma dos filmes de horror).

A. Antonio: Sim, o fenômeno do horror no cinema é o tema central deste nosso novo trabalho. Entretanto, como Márcio mencionou, não significa que este seja o único tema abordado pela banda... Neste sentido poderíamos dizer que um tema mais pertinente e, por isso mesmo, mais recorrente – que também expressa melhor as nuanças existentes no atual trabalho – seria a Morte. Obviamente, não meramente num sentido negativo, depreciativo da vida... Mas sim, como expressão artística daquilo que a inquietante “consciência” da finitude nos traz. O desconforto, a angústia, o riso incontido, a hesitante liberdade perante o abismo... Enfim, toda gama de sentimentos que essa inefável presença possibilita, alimenta continuamente nossa vontade criativa; como substrato de uma força que inexoravelmente nos lança “ao proibido”...!
Aliás, essa temática me parece bastante “natural” para quem tem o Death Metal – musicalmente falando – como um dos principais pontos de partida estético. Uma perspectiva artística bastante peculiar, que, no entanto, consegue inúmeras vezes estar em consonância com nossa singular condição existencial – único ente “consciente” de sua finitude. Entendo ser nesse contexto que o título do trabalho, “Danse Macabre”, revela sua força... Desvelando, sob um olhar mais acurado, uma imensa gama de significados!
Para que seus leitores – e, espero, nossos futuros ouvintes! – tenham uma noção da temática concernente ao trabalho, posso apontar duas perspectivas mais “diretas”... Por um lado, temos esta referência à origem da expressão “La Danse Macabre”, enquanto uma alegoria medieval sobre o caráter universal da morte. Alegoria esta, que representa artisticamente a percepção do quão frágil é a vida humana e, por isso mesmo, quão vãs são as glórias terrenas. Nesta direção temos um pano de fundo histórico que remonta ao impacto produzido pela Peste Negra (pandemia ocorrida no séc. XIV) e todo arcabouço imaginário que este acontecimento nos legou.
Por outro lado, temos a citação à obra homônima de Stephen King, explicitando a relação de nossa obra com o fenômeno do horror e, principalmente, a influência que este fenômeno, vivenciado através do cinema, tem em nossa música. Acredito que nesta referência à obra de Stephen king, o nosso ouvinte possa vislumbrar, como citado por Márcio, o “caráter metalingüístico” que este trabalho possui. Neste aspecto basta atentar para o título da obra em sua tradução para o português: “Dança Macabra: O fenômeno do horror no cinema, na literatura e na televisão dissecado pelo mestre do gênero”. Logo que adquiri este livro – justamente por indicação de Williard para desenvolvimento do nosso tema – e li o título, me veio a cabeça: “Faltou aqui a referência ao fenômeno do horror na música...!” E acho que se um livro desta natureza fosse escrito atualmente, poderia conter um belo capítulo sobre o tema no Heavy Metal e, em especial, seu desenvolvimento no Death Metal. Pois percebo como uma das grandes qualidades do Death Metal o fato de – tal como os filmes e a literatura do gênero em questão – trazer o ouvinte para o âmbito dos prazeres macabros, ou como diria Stephen, levá-lo a um “...nível de horror que se experimenta aquela pequena sensação de ansiedade que nós chamamos de ‘arrepio’”. Pense em algumas bandas clássicas do gênero – como Autopsy, Cannibal Corpse, Morbid Angel... – e talvez você tenha a exata percepção do que estou falando!
Perceba, então, como para nós estes vários aspectos se conectam, formando um arcabouço lírico extremamente rico. Morte, horror, cinema, literatura, música, o próprio Death Metal... Todo esse universo de idéias macabras ao nosso dispor... Do quê mais precisaríamos para dar vida ao nosso “mostro”, e assim, exercer por meio da música nossa vocação “frankensteiniana”?! (risos)Quanto às composições, você pode imaginar que a partir do momento em que estamos tomados por esta atmosfera, as idéias advém de forma muito espontânea; bastando apenas escolher as melhores e trabalhá-las até tomarem a forma que desejamos. Em seguida o quadro todo vai se tornando mais nítido, até o ponto em que decidimos qual a matiz final. O grande “problema” neste caso foi selecionar quais filmes iríamos abordar, pois gostamos de muitos e, obviamente, vários tiveram que ficar de fora. Mas sei que esta influência dos filmes aparecerá em novas músicas no futuro, não necessariamente num trabalho com o mesmo tema, mas sim, porque temos prazer em compor a partir deste enfoque.

[FxUx]Entre os quatro integrantes, dois são filósofos. Márcio “The Philosopher” (baixo) e Alex "Souldealer" (guitarra), esta formação filosófica influência de alguma forma nas composições da banda?

M. Quirino: Bem, somos três filósofos na banda, já que Scorpion também tem a mesma formação, e inclusive é o mais antigo e avançado academicamente entre nós. Certamente a visão filosófica sobre o mundo influencia a nossa arte/música. Mas isto, ao menos no que se refere a mim, deve ser dito de uma maneira “não acadêmica”. Ou seja, quando componho uma letra ou uma textura musical, não estou preocupado em transmitir “conceitos” nem “instruir”/“melhorar” ninguém através da minha música; apenas tenho o intuito de criar uma espécie de canal de comunicação emocional/estética com o ouvinte, seja ele/ela quem for... abrir um link que permita a quem aprecia a composição ver as mesmas paisagens poéticas que eu, interpretá-las e vivenciá-las de seu próprio modo ― era exatamente o que eu experimentava (e ainda experimento) quando lia/ouvia aqueles a quem considero meus mestres... como quando escutava Hallowed Be Thy Name e pensava: “esse cara está falando comigo!”, e num outro momento: “sou eu ali andando lentamente para o poste da forca...” e etc. É esse tipo de universo literário que gosto de criar, e a filosofia auxilia muito nesse processo, porque propicia um entendimento mais acabado do mesmo. Enfim, não sei explicar muito bem, e fico feliz por isso.

W. Scorpion: Sim, está correto. Dois são filósofos, Alex e Márcio, eu apenas estudo história da filosofia. De minha parte, não há interferência “filosófica”.

A. Antonio: Para mim a coisa acontece de forma muito espontânea, já que não consigo dissociar meu dia-a-dia destas duas formas de pensamento: Música e Filosofia. Obviamente, quando componho ou simplesmente desenvolvo algum trabalho artístico, não tenho nenhuma preocupação com rigor acadêmico ou coisa que o valha. Entretanto, não acredito – e nem mesmo desejo! – que tudo que eu tenho experimentado a partir da reflexão filosófica não acabe por ressoar de alguma forma em meus trabalhos. Neste ponto, acredito que a grande contribuição se dê mesmo por meio do gosto e do hábito da leitura, que, sem dúvida, o estudo filosófico tem me proporcionado ao longo dos anos. Seja a leitura propriamente filosófica ou não, é sempre instigante o contato com novas idéias, com novos pontos de vista para antigas questões, com experiências as mais variadas possíveis. Percebo que tal experiência tem enriquecido continuamente minha percepção da vida; e mesmo que em alguns momentos a devoção a estas duas deusas tão caprichosas seja tão árdua e desafiadora, me traz um imenso prazer saber que cultivo em mim algo tão precioso e sutil! Sendo assim, posso dizer que espero que a cada dia minha música se torne mais filosófica e minha filosofia mais musical – expressando exatamente a forma particular com que entendo e vivo o significado destas duas palavras!

[FxUx]Vocês estão na ativa já há oito anos, e este ano lançam o primeiro EP da banda, “Dance Macabre”. Quais foram as maiores dificuldades neste período?

E. Amorim: Bem, a meu ver seriam alguns fatores básicos: constantes mudanças de formação; queríamos lançar um trabalho com qualidade tanto no lado do áudio em si, como na apresentação gráfica; e o outro fator seria a questão financeira, pois no underground fica bastante difícil de lançar algum material por conta própria sem nenhum selo ou programa de incentivo do setor público, principalmente nas regiões fora do eixo Sudeste-Sul.

M. Quirino: As maiores dificuldades vieram das constantes e irritantes (porém muitas vezes necessárias) mudanças de formação pelas quais passamos. Durante muito tempo, éramos sempre eu e Alex tomando as rédeas (organizacionais e criativas) da banda e, ainda, tendo de lidar com circunstâncias para nós já superadas, como incorporar as disponibilidades (ou indisponibilidades) mais ou menos injustificáveis ou infantis de alguns dos muitos membros que tivemos, à agenda e planos do Dissidium, o que obviamente atrapalhava demais. Além disso, havia problemas de orçamento (na maioria das vezes sobrávamos apenas nós novamente, para assumir as contas e gastos) e finalmente de conciliação com outros projetos pessoais imprescindíveis que um ou outro acabamos tendo em algum momento.
Mas já com a entrada de Felipe “Morfeu” Dias (ex-vocalista), Monga (Eduardo – bateria) e enfim Williard Scorpion (“novo” vocalista), as coisas mudaram bastante de perfil, e confesso que considero o atual line up não apenas o melhor até então, como de certa forma o primeiro “fixo”, maduro e pronto, o “oficial”, por assim dizer (sem querer de maneira alguma menosprezar deliberadamente as outras formações e os membros que nos ajudaram). Portanto, estou feliz com a presente configuração da banda e é com ela que quero levar Danse Macabre para a estrada e gravar os futuros plays.


A. Antonio: Cara, as dificuldades foram e ainda são muitas. Creio que Márcio e Eduardo já listaram a maioria delas... Dificuldades típicas do dia-a-dia de várias bandas independentes do país, especialmente de estilos musicais como o nosso. Entretanto, gostaria de destacar justamente o outro lado da sua questão, isto é, a constante superação destas dificuldades. O fato é que estamos muito contentes com o resultado alcançado até o momento, principalmente porque sabemos que isso é conseqüência de muito trabalho e determinação. Que reflete não só o nosso esforço, mas também, o de várias outras pessoas da cena local (sim, aqui existe um cenário musical bastante rico e diversificado!) que participaram, direta ou indiretamente, da produção deste material, e que também enfrentam diariamente estas mesmas dificuldades.
Diante do total descaso com a cultura que existe em nosso estado, principalmente para aquilo que a “grande mídia” não considera “digno de nota”, conseguirmos produzir um material de qualidade, de forma independente – com produção 100% paraibana, apostando numa nova mídia, que possibilita, em tempos de crise da indústria musical, facilitar financeiramente o acesso legal à arte! – só pode ser considerado uma vitória. Sei que é só um começo e que ainda teremos muito trabalho pela frente... Mas realmente acredito, sem falsa modéstia, que estes nossos “primeiros passos” possam ser também um incentivo para aqueles que, como nós, vivem e lutam pela cultura na Paraíba; especialmente, em segmentos artísticos tão discriminados em nosso estado, como é, por exemplo, o próprio Heavy Metal.
Veja bem, você citou nossos vários anos de trabalho (só com esta banda!)... E acho bastante sintomático o fato de ser exatamente um veículo independente como o seu, o primeiro no estado a abrir espaço para nosso trabalho! Ironicamente, tem sido muito mais fácil chamarmos atenção e conseguirmos apoio em outros estados, e mesmo em outros países, do que em nossa própria casa! E olhe que somos um grupo relativamente novo... Quantos artistas locais desenvolvem há vários anos um excelente trabalho e ainda não tiveram as devidas oportunidades? Quantos não lhe vêm à cabeça, que, para manterem vivo seu trabalho, tiveram de se mudar do estado? Mais ainda, quantos só foram “percebidos” como “verdadeiros artistas” ao conseguir algum reconhecimento em outras localidades?! E o pior é que muita gente se acostumou a pensar que isso é inteiramente “normal”! Entende o que estou querendo dizer...?! Pois é, imagino que a partir destas palavras o leitor possa deduzir o quanto há de superação em cada uma de nossas realizações e, conseqüentemente, o quanto estamos orgulhosos de nosso trabalho!

[FxUx]Primeiramente foi o Thyresis, agora vocês também viraram endorsed do INFERNO HAND CRAFTED GUITARS da Austrália. Como aconteceu esta ligação? Como eles conheceram o trabalho de vocês?

M. Quirino: É verdade. A ligação com Trevor Discombe da Inferno Guitars aconteceu justamente com o intermédio de João Paulo “WFD” (ex-guitarrista do Thyresis), que também já tocou conosco e com quem até hoje mantenho trabalhos conjuntos. Trevor se interessou por uma produção minha e de JP, em parceria com o baixista do Thyresis, nosso co-produtor Victor Hugo Targino, e a partir daí conheceu também o Dissidium; logo nos falamos pessoalmente e acertamos os parâmetros e critérios para o endorsement.

[FxUx]Em relação aos shows, já está ocorrendo algum contato para lançamento deste EP? Vocês pretendem sair em turnê pelo Brasil?

E. Amorim Pretendemos fazer um show de lançamento em nossa cidade nos próximos meses; nesse primeiro momento as grandes cidades do Nordeste serão o alvo, espero que posteriormente atinja as outras regiões.

M. Quirino: Sim, estamos estabelecendo e tentando expandir os contatos para a divulgação de Danse Macabre, e estudando propostas, além de oferecer as nossas próprias também. Sobre o primeiro show após as gravações, o de lançamento, este deve acontecer entre o corrente mês (Julho) e Setembro. Estamos aguardando e buscando contatos com os produtores locais de vários Estados, para firmar turnês e mais apresentações.

[FxUx]Vocês já disponibilizaram em seu myspace uma música, “Buried Alive”, do EP. Como está sendo repercutida esta primeira visão dos ouvintes e futuros fãs da banda?

E. Amorim: Pelos comentários que o pessoal está deixando no próprio MySpace, a aceitação está bastante satisfatória, estão gostando da música.

M. Quirino: A opinião do público tem sido boa. As pessoas normalmente vão direto ao ponto que eu espero, que é associar a ambiência musical e gráfica criada, às obras e o universo estético que inspiraram essa mesma ambiência. Isso para mim é o mais importante quando se trata de saber se fomos bem sucedidos quanto ao nosso objetivo de falar musicalmente sobre determinadas coisas. E no plano musical se dá o mesmo: ouvi comentários sobre a semelhança com as bandas que desde o início nos influenciam de alguma forma: Obituary, Morbid Angel, Autopsy, Malevolent Creation, Deicide, Napalm Death, Benediction... Basta acessar a nossa página para conferir: www.myspace.com/dissidium.

A. Antonio: Já disponibilizamos outras músicas em nossa página no Myspace: “Necronomicon”, “Michael Myers”... E as opiniões continuam sendo bastante favoráveis. O que sugere estarmos no caminho certo... E também nos deixa bastante ansiosos para conferir a recepção do material em sua totalidade, principalmente, nos próximos shows!

[FxUx]Em relação ao Underground paraibano e consequentemente o Underground nacional, qual a opinião de vocês em relação ao mesmo?

E. Amorim: Bem, aqui na Paraíba tudo é meio parado, faltam shows de médio porte em consequência da falta de apoio dos poderes públicos e o próprio pessoal do underground tem que se organizar mais; no ambiente nacional, lamento que bandas fora do eixo Sudeste-Sul fiquem meio que esquecidas, pois existem excelentes bandas que poderiam estar se destacando pelo país inteiro.

M. Quirino: É um tanto cansativa essa discussão sobre o underground, em certo sentido. Não acho que haja realmente muitas e significativas mudanças no chamado mundo underground de tempos para tempos; que em uma época a cena é mais ou menos produtiva, mais ou menos unida, mais ou menos movimentada... Prefiro entender o que chamam de “underground” como uma nomenclatura meramente técnica, para compreendermos em geral em que estágio uma ou outra banda se encontra, relativamente à sua carreira e potencial. Não me disponho a discutir isto em termos de “atitude”, como de costume, pois é algo tão elementar como perguntar a um piloto de automobilismo, por exemplo, qual era a “atitude” dele quando guiava Kart, e depois quando guiava outra categoria, e outra e assim por diante: a “atitude” em questão só pode ser uma e a mesma: a de piloto! E como tal, ele sempre quer e quis correr, disputar, ganhar! Apenas havendo uma mudança ocasional de contextos e conseqüentes abordagens, num sentido técnico... Mas o essencial sempre está lá: piloto! Assim como na música: músico! Não é promissor discutir a coisa para além dessa perspectiva.
Assim, neste sentido mais “técnico”, respondendo à pergunta: pode-se de fato constatar que há bandas boas e com material de qualidade surgindo e se esforçando, algo para o qual com certeza as novas mídias de divulgação e os processos simplificados e mais domésticos de produção têm contribuído bastante. Isto é observável não apenas no Brasil, como no exterior. E, no geral, essa facilitação só tende a ajudar as bandas a terem acesso a melhores condições também nas performances ao vivo, e mais contatos e possibilidades para suas carreiras, o que vejo como elementos positivos.

A. Antonio: Acredito que o baixo incentivo à cultura tem sido uma constante no nosso país, principalmente, em estados menos favorecidos financeiramente como o nosso. Esta situação irá se acentuar à medida que você voltar o olhar para determinados segmentos artísticos, que por um motivo ou outro, parecem não corresponder a determinados “padrões estéticos” estabelecidos pela dita “indústria do entretenimento”. Então, desenvolver qualquer projeto artístico é sempre uma empreitada cercada de grandes dificuldades... Especialmente quando o projeto em questão parece se situar justamente fora da “zona de interesses” desta “indústria”. Obviamente, alguns aspectos mudarão de região para região, de projeto para projeto; entretanto, creio que a captação dos recursos seja o grande problema comum a todos!
Olhando para a cena local, podemos perceber que esta carência de recursos se torna latente através de dois pontos básicos: infraestrutura e qualificação técnica. Em nosso estado quase não há lugares para espetáculos e os poucos que existem, não possuem uma estrutura adequada para as apresentações. E se você olhar especificamente para alguns segmentos artísticos, por assim dizer, “mais independentes” (que talvez, como você citou, possamos qualificar como “undergrounds”) de certos padrões mercadológicos, aí então, a coisa se complica ainda mais! Falando propriamente dos locais para apresentação das bandas, dos poucos que existem, a maioria não abre espaço para “bandas undergrounds”. Naqueles que abrem, na maioria das vezes, a banda tem que praticamente pagar para tocar (e em alguns casos, literalmente pagar para tocar!), pois, a “casa” só cederá o espaço...! Este mesmo tipo de problema se repetirá em vários outros aspectos, como carência de locais adequados para gravação (que tenham também técnicos qualificados!), dificuldade no acesso a instrumentos musicais de qualidade, restrição aos meios de divulgação, etc. Como você pode perceber, poderíamos passar horas falando sobre esta situação. No entanto, se faltam recursos para esse tipo de segmento artístico, por outro lado, sobra criatividade e persistência. Entendo que aquele espírito do “Faça Você Mesmo!”, tem sido uma constante neste segmento musical e inúmeras vezes o responsável direto, tanto pela sobrevivência, como também pelas principais mudanças no cenário. Pois mesmo diante destas dificuldades, o número de bandas de qualidade é sempre crescente (inclusive em nosso estado!); e com o aumento gradativo do acesso à internet e as novas tecnologias de gravação, imagino que cada vez mais esta qualidade se torne perceptível, ajudando em muito a modificar a realidade, nem sempre favorável, da cena atual.

[FxUx]Gostaríamos de saber a opinião de vocês em relação aos blogs e sites que disponibilizam álbuns de bandas para baixar. Vocês são contra? Acham que exista algum ponto positivo nesta pirataria virtual?

E. Amorim: Particularmente não sou contra. No atual momento, acho impossível isso ser barrado pelo poder público. Temos que ver o lado positivo, serve como divulgação.

M. Quirino: A minha visão quanto a isso vai na mesma esteira da resposta à questão acima: não encontro qualquer coisa propriamente “ruim” ou “condenável” nas novas mídias em si (no caso, os blogs e outros websites...), nem na sua utilização, especificamente. Talvez apenas ainda não houve tempo suficiente ou disposição (o que é mais provável), por parte das gravadoras e selos independentes, para utilizar isso a seu favor ou simplesmente tolerar a existência desses recursos.
Sinceramente ― e sem querer levantar um tom de teoria da conspiração ―, eu realmente me recuso a acreditar que garotinhos sardentos de doze anos, por mais espertos que sejam, possam, na maioria das vezes, superar as estratégias de vários engravatados corruptos numa sala de reuniões... Mas é uma opinião pessoal (e se o problema mesmo não for mais o garotinho sardento e sim engravatados mexendo com muita grana, dos dois “lados”, então certamente os blogs e websites também apenas indiretamente têm a ver com isto, e a coisa é muito mais específica).

W. Scorpion: Trata-se de uma situação que demanda cuidado na análise e muitas informações (e, infelizmente, não disponho de todas elas no momento). Pessoalmente, acredito que a desarticulação do imenso poder das gravadoras é um ponto positivo; elas não querem abrir de uma parte dos lucros, não querem reelaborar a relação com artistas e consumidores, são muito teimosas... Resultado? A crise da indústria fonográfica amarga perdas progressivas anuais na faixa dos 15%. Essa relação precisa ser revista. Não posso precisar se as bandas/gravadoras de pequeno/médio porte estão amargando com a crise; pelo que tenho lido, eles também tem sofrido. De modo geral, há muitas reclamações. Alguns artistas dizem que garantem o sustento com os shows, que nunca ganharam dinheiro com os discos, etc. Há pesquisas que apontam que as pessoas que tem intenção de comprar o disco da banda, realmente o fazem, mesmo tendo feito o download antes disso... De qualquer modo, não se pode ignorar que as vendas têm caído brutalmente e há um mercado da música com suas bases seriamente comprometidas..., pelo menos, aparentemente.
Eu faço download e compro discos de minhas bandas preferidas, da mesma forma como há vinte anos atrás fazia com fitas cassetes e lps: ou seja, gravava fitas e comprava os vinis.
O Dissidium está optando pelo formato SMD (Semi Metallic Disc) para poder oferecer um produto artístico de boa qualidade a um preço competitivo com a situação atual do mercado.

A. Antonio: Cara, acho muito complicado tecer comentários definitivos sobre este fenômeno. Pois entendo que não temos ainda recuo histórico suficiente para analisar adequadamente esta evolução do “comércio artístico” no mundo “virtual” – seja música, filmes ou qualquer outra produção intelectual. Creio que no momento percebemos apenas uma ponta do Iceberg e é bem possível que em pouco tempo toda nossa concepção do atual “mercado das artes” caía por terra! O que posso dizer é não sou necessariamente contra os downloads de músicas ou álbuns, uma vez que realmente vislumbro vários aspectos positivos nesta, digamos, “facilidade de acesso” aos materiais e informações em geral. Como Williard comentou, boa parte deste crescente “intercâmbio de materiais” realmente me lembra a época do tape-trading (obviamente potencializada!), que não nos fazia querer parar de compra discos, muito pelo contrário...! Quando penso nisso me parece claro que o problema sempre foi ter poder aquisitivo para fazê-lo! E não parece mesmo um contra-senso que com todas as crescentes facilidades tecnológicas de produção e distribuição, os álbuns se tornem cada vez mais caros?! Entretanto, o que me aparece como uma preocupação mais evidente neste caso da pirataria (seja no “mundo virtual” ou não!) é justamente o papel dos “atravessadores” nesta “transformação” do mercado. O fato de que muita gente que não tem nada a ver com o processo de criação artística e/ou confecção do suporte material original da arte em questão, obtenha grandes lucros com o trabalho de terceiros, sempre me pareceu um grande disparate. Nota-se que os grandes prejudicados na maioria dos casos são mesmo os artistas... Que, como sempre, são impelidos a pensar e desenvolver novas maneiras de manter vivo seu trabalho, inclusive se “utilizando” desta demanda por downloads! Como não quero me estender neste assunto (pelos motivos já apontados!), gostaria apenas de deixar no ar algumas questões que me vêm à mente quando penso neste assunto. Como por exemplo: Alguém saberia dizer quanto exatamente têm lucrado os fabricantes das “mídias virgens” (CD-Rs e afins) com esta onda de pirataria? E os fabricantes dos dispositivos tecnológicos de reprodução caseira, como gravadores de CDs, DVDs? Será mesmo que as grandes corporações, incluindo as grandes gravadoras, estão realmente tão à parte do processo de expansão deste fenômeno dos downloads ilegais e das cópias ilegais?... Aguardemos então os próximos capítulos!

[FxUx]Para finalizar gostaríamos primeiramente de agradecer esta oportunidade de entrevista e em segundo que vocês deixassem uma mensagem para os leitores do Farofa Underground.

E. Amorim: Espero que tenham gostado da entrevista, escutem o EP Danse Macabre (tirem sua conclusões) e nos encontraremos no show. Valeu!

M. Quirino: Obrigado pela boa entrevista. Espero que através dela as pessoas se interessem em conhecer mais sobre a banda e o nosso trabalho. Até a próxima!

W. Scorpion: Agradeço ao Farofa pela oportunidade de livre expressão e a todos os que tem apoiado o Dissidium e acreditado em nosso trabalho. Fiquem vivos, saudáveis e produtivos!!! Veremos vocês nas encruzilhadas da vida!!!

A. Antonio: Nós que agradecemos pela oportunidade! Espero que apreciem Danse Macabre e possamos nos encontrar no próximo show. Valeu!

quinta-feira, agosto 13

Embraced By The Lights

Como este evento foi meio em cima da hora, vamos dar um destaque maior ao mesmo. O evento será no Espaço Mundo (antigo Gabinete de Fuba) na praça Antenor Navarro, centro histórico da capital. Entrada R$5,00 às 16h00min. Para quem não conhece as bandas, segue alguns vídeos disponíveis no youtube.

R.I.D. (Dark/Death Metal)


Halamah (Melodic Death Metal)


Banda Onigiri(Heavy Meta/ Anime-Inspired)



Obs.: Próxima postagem, entrevista com a banda de death metal paraibana, DISSIDIUM, aguardem.