segunda-feira, outubro 6

Crass


Crass foi uma das primeiras bandas a incorporar o ativismo e idealismo político anarcopunk em suas músicas e shows. Formada oficialmente em 1978 na Inglaterra pelo baterista Penny Rimbaud e o vocalista Steve Ignorant, também foi a primeira do estilo D.I.Y. (Faça você mesmo) na composição de seus trabalhos, slogan que orientaria toda a contra-cultura punk, que então surgia. Tocavam sempre em ambientes pouco iluminados, com dezenas de faixas e cartazes expondo mensagens como: “Quem eles pensam estar enganando, você?", "Se entupa com seu lixo sexista" ou "Não importa em quem você vote o sistema sempre vencerá", filmes passando no fundo do palco com imagens surrealistas de guerras, violências, matanças, matadouros, explosões.
Discos:




Em 1978 lançam The Feeding of the 5000 o primeiro EP da banda, contendo 17 musicas, o título se deu ao medo de não conseguirem vender a primeira prensagem de 5000 cópias pela Small Wonder Records na segunda metade de 1978. Para a época o disco era inaudível e havia sido feita de forma mais barata possível. Sendo gravado em “Take One” (Ao vivo e uma vez só) e tinha a capa toda em preto e branco para baratear o máximo à produção.

Em 1979 lançaram The Stations of CRASS (Part. 1 e Part. 2) o segundo disco da banda, desta vez já produzida pela Crass Records. Em seu titulo trazia uma alusão a passagem bíblica Estação da Cruz. O disco vendeu bem, fazendo com que arrecadassem um bom dinheiro para os lançamentos, inclusive de outras bandas e de divulgação. A numeração dos discos era baseada na contagem regressiva do ano de 1984 o ano apocalíptico de Orwell (planejavam acabar a banda neste ano). Começaram a fazer shows beneficentes em nome de várias causas, como por exemplo, liberar os anarquistas presos em manifestações. O envolvimento entre os punks e o anarquismo-ativista crescia cada vez mais, fazendo os shows encherem mais e mais e arrecadando fundos de sobra para aplicar em várias causas e projetos.



No ano de 1980 depois de criticar todos os setores podres de pensamento sujo da sociedade vigente (consumismo, racismo, violência, guerra, religião...), sentiram que faltava um ponto especial, não percebido antes como essencial: a posição social da mulher. Gravaram então um disco só com vocais femininos com idéias ultra-feministas. Penis Envy (Inveja do pênis). O disco foi tão bem aceito que em uma semana atingiu o Top 50 da Inglaterra, mas, como já se previa, na semana seguinte, não se podia encontrá-lo em lugar nenhum. Percebia-se uma conspiração da indústria fonográfica sobre a banda: as gravadoras pagavam para ter seus discos nas paradas. Descobriram uma nota da EMI Records, onde dizia aos seus departamentos evitarem contato com o Crass e para os shoppings evitarem seus discos.

Nos anos de 1980/82, cansados de tocar em Clubes e Universidades, entram em uma turnê com custos próprios pelo interior do país, chegando a cidades que desconheciam o rock. Seguidos sempre por muitas pessoas, dando inicio a COMUNIDADE CRASS. Tocavam em regiões cada vez mais longínquas, e eram recebidos com sorrisos pelo povo local. Os shows eram sempre em nome de entidades beneficentes. Estes festivais sempre acabavam em espancamento. De um lado os anarquistas, do outro a polícia nacional.Em 1981 começaram a gravar o Christ – The Album (Disc 1 e Dic 2), este disco continha musicas que alertavam de uma possível invasão Inglesa em solo estrangeiros. Antes mesmo do lançamento do disco (2/82), a Inglaterra entrou em guerra contra as Malvinas. A imprensa esperava uma ação da banda para poder rotulá-los de “traidores da nação”. Morderam a isca, como tinha de ser, e lançaram um single com a musica “como deve se sentir uma mãe de 1000 mortos?”, uma questão nada agradável a mãe mão-de-ferro Margret Tatcher. Foi à ocasião para serem transformados pelo estado como os inimigos número um do reino Inglês. Tatcher falava publicamente sobre a música, ameaças de morte da polícia federal eram freqüentes à banda, o cinismo era a face da imprensa e, os grupos pacifistas, notadamente hippies, que brandeavam: "No More WARS" (guerras nunca mais), permaneciam calados. Poucos se uniram a banda nessa causa, mas a mídia tinha sido avisada para deturpar qualquer ação contra a política da guerra. A situação estava difícil. Estavam como em uma arena; a qualquer momento, por qualquer deslize seriam destroçados. O perigo era imenso, e por muitas vezes quase desistiram de tudo.
Foi então que fizeram o primeiro festival 24 horas de show punk na Inglaterra, uma forma particular de contra-ataque. Ocuparam um teatro de uma hora para outra no subúrbio de Londres, e lá permaneceram heroicamente por dois dias contra a represaria em massa da polícia. Comida e bebida eram de graça, e outras 23 bandas punks tocaram. O slogan 'do it yourself' (faça você mesmo) usado neste show se tornaria o símbolo de qualquer ação musical underground punk feita pelo mundo.
Em 1983 Lançaram Yes Sir, I Wil. Este disco parecia mais um livro falado com música ao fundo, onde se criticava os que aceitavam o poder passivamente, e tinha como mensagem central a máxima “na há autoridades a não ser você mesmo”. Queriam acabar com a reeleição de Tatcher de qualquer maneira. Surgiu então a idéia da fita 'tatchergate' (alusão ao caso watergate, de Richard Nixon, ocorrido nos E.U.A. no início dos anos 70). Depois da fita, os poderes ingleses, americanos e soviéticos estiveram em situação delicada; a imprensa do mundo todo comentava o fato. Foi então que um ano depois a banda assumiu o feito, e se tornou então o centro das atenções. Cediam entrevistas para rádios do Canadá à Tókio, eram tratados como uma força política e, pela primeira vez, com certo receio e medo. Foram então vítimas do que seria o último aviso da corte: "Nós temos meios de calar vocês.”

A super-exposição à mídia levou ao conflito de interesses dentro da banda; a necessidade da individualidade afogada por tanto tempo em nome da 'comunidade' precisava emergir. Cada um queria seguir seu caminho e se encontrar, pois os ovos já haviam chocado e os recém-nascidos tinham uma estrada inteira à frente. A banda acabou em 1984 depois de uma última apresentação pública. Gravaram "10 notes on a summer's day e Acts of Love" e a coletânia dos singles"Best before... 1984" (melhor antes de... 1984), respectivamente entre 84 e 86. Já não estavam presentes todos os integrantes do grupo durante esses lançamentos, e mesmo assim afirmavam "...continuaremos lutando, individualmente ou em grupo, mas não mais nos limitaremos a manter o formato de banda."